Andrea Soares

Depoimentos

Em setembro desse ano completo 8 anos de Betta na minha vida!

E me lembro perfeitamente do primeiro atendimento: Eu, toda de branco, cabelo quase careca, por baixo de um turbante na mesma cor. A sala da Betta, com um sofazinho de um tecido lindo, cheio de gotas de tinta multicoloridas. Entrei e pensei, pronto! Agora vai! Esse sofá me trouxe o recado!

Eu acabara de voltar de uma das experiência mais marcantes da minha vida: ser feita  Yaô, filha de Iansã.  Mas trazia comigo a constatação que, mais uma vez, a vida me pregava peças… É que nesse tempo, e ainda muito hoje, por mais cuidado, organização e planos que eu tivesse, tudo que eu tinha que realizar sofria alguma intercorrência, que me fazia ter que me desdobrar 10 vezes pra coisa ser realizada como deveria.

No meu processo de Yaô, duas pessoas do terreiro, que é uma estrutura super organizada de cargos e funções, adoeceram, e isso gerou uma sobrecarga pra minha Yalorixá, que tbm adoeceu. Resumo: tudo se realizou. Mas até naquele lugar, onde eu estava sob todas as proteções, e apenas recebendo, sem agir, também ouve intercorrências. Voltei pra SP e poucos dias depois havia marcado com Betta, que tanto havia sido citada pela Dani Zulu, colega de trabalho, que já havia sido acompanhada por ela.

Posso dizer que o que aconteceu por aqui, desde então, foi mais por dentro, do que por fora. Por fora, eu continuo fazendo, fazendo, fazendo! Ainda não consegui diminuir o suficiente. Mas por dentro alguma coisa se move lentamente e me coloca num caminho de rio calmo, gostoso. Instável, mas fascinante! E como micro e macro se refletem, estou trabalhando para que isso se amplie pro meu Todo.

Eu sou uma multiartista que escolheu a cena para se exercer, aos 30 anos (21 anos atrás), e após trabalhar 9 no funcionalismo público, em Pernambuco.  Minha graduação é em Teatro, mas o corpo em movimento sempre foi minha paixão, o meu grito, minha fala ampliada. Eu atuo, danço, canto, componho (pouco), escrevo, dirijo e produzo o Núcleo Pé de Zamba, e agora também produzo podcasts, que já entraram no mercado pelo tapete vermelho do UNICEF Brasil (rs). Tenho uma pequena produtora cultural – a Ilumiara – Ser e Conhecer – à qual decidi direcionar para ações ligadas ao Desenvolvimento Humano. Na verdade, só afirmei isso pro Universo, porque faço isso desde sempre. Olhei pro meu caminho e vi que precisava assinar dessa forma. A Ilumiara viabiliza tudo isso que falei antes, na parceria com meu companheiro de vida e de lida, Leandro Medina. Pesquiso e trabalho visibilizando as culturas tradicionais brasileiras e suas comunidades. Sou terapeuta corporal através da Eutonia e estudante de uma Formação em Alquimia, para ser terapeuta floral alquímica, mas estou lá mesmo porque me encanta a mudança de paradigma sobre existência. Entre 2015 e 2019 estive presidenta da Associação Brasileira de Eutonia, e batalhei para que a prática se popularizasse e pudesse chegar a todas as camadas da sociedade, porque acredito que todas as pessoas têm direito de buscar autoconhecimento e autocuidado. O caminho é longo, mas a busca segue.

A experiência mais forte com a Betta – e que se deu lentamente – foi entender que não tenho controle de tudo. O perfeccionismo não pode me dar garantias! Demorou pra aceitar, isso lá dentro de mim, e ainda escorrego. Pois foi só quando compreendi isso que entendi o não julgar, o perdoar e o agradecer, verbos sem os quais o amor incondicional não pode se estabelecer. Porque todas as pessoas têm trilhas próprias na existência, e elas não precisam ser iguais e estarem sob um padrão. O que é perfeito e bom pra um pode não ser pra outro… O controle – fruto primeiro de um racionalismo que afogava minha intuição – não sei quando, nem porquê chegou na minha vida, mas ele é arraigado no meu jeito de ser. É um embate cotidiano… Mas entendi que o controle é o outro lado da moeda da confiança. Sigo buscando melhorar com isso. 

Toda essa percepção sobre controle, e julgamento me fez olhar pra minha ancestralidade de outra forma. As dores vividas, os embates, os desrespeitos, eles deixam marcas. Mas compreender que eles fazem parte de uma rede de acontecimentos com suas ações e reações, faz a gente contextualizar as pessoas, suas formas de agir, e aprender a harmonizar, não julgar e perdoar. E me fez também entender que a cada novo dia EU posso me mover pra uma nova possibilidade, que não precisa mais daquela amarra com o passado. Isso diminuiu muito o meu medo e me trouxe coragem para ousar.

Mais recentemente, eu passei a prestar mais atenção nas causas dos meus desconfortos, dos meus equívocos e tentar mudar a partir daí. Passei a pelo menos tentar praticar o “eu, eu, eu”. E já as relações no trabalho mudaram. Ou eu mudei o meu olhar.  Passar a gostar mais de mim me deu liberdade para não me preocupar tanto com o julgamento alheio. Ele respingava no meu autojulgamento e era bem cruel! Todes merecemos ser amados pelo que somos. Esse entendimento me traz paz interior. Mas ele é algo em construção ainda.

Nunca me afastei da Betta. Não podendo estar sempre nos campos, frequentei, com entusiasmo, quase todas as meditações e foi nelas que o meu despertar se fez mais pleno. As mensagens, que muitas vezes eu entendia, mas não via sentido, foram se guardando dentro de mim como pequenos alertas sagrados, pra serem lembrados na hora certa. E eu fui construindo gradativamente uma linha de sentido e coerência naquelas falas. Me instigava o mistério de quem falava ali, e gritava dentro de mim um desejo de mudança muito intenso e muito cheio de consciência.

Hoje aprendi mais a ouvir a intuição e não duvidar. Identifico quando minha telepatia está em ação. Comprovo no meu cotidiano, sempre que me permito (porque nem sempre me permito), o “pedi e recebereis!”, e também o quanto que um “pedir” confuso, embaralha o “delivery” do Universo. Ou, o quanto que um pensamento negativo, por mais ingênuo que seja, pode cocriar a intercorrência. Entendi a potência que sou e a responsabilidade que tenho diante de cada pensamento ou gesto.

O que estamos vivendo neste último ano me fez “perdoar” a Betta pela raiva que me provocava quando ela dizia: “calma, tudo é”, diante das coisas difíceis que iam nos acontecendo no macro. Porque simplesmente foi se apresentando para nós toda uma realidade para a qual fomos preparados, por mais de dois anos, acho. Essa constatação me colocou numa posição de humildade perante ao Todo e eu comecei a entender ainda mais fortemente que estou em missão, e disponível para fazer o que vim fazer! Isso tem me feito decretar, sem medo, que quero estar perto da natureza e oferecer o que tenho pra dar de maneira simples. Quanto aos meios para isso, estou na busca.

E esse sentimento tão lindo me faz agora estar num esforço cotidiano de me livrar das minhas crenças limitantes; de me ver no meu verdadeiro valor e de tornar viável uma vida plena de sentido, fazendo o que amo. Meus valores mudaram. Passei a acreditar e praticar a abundância pra todos e não a competição. Claro, estamos em transição. E isso é o mais complexo, porque não há como romper bruscamente com escolhas envelhecidas, até porque precisamos sobreviver. Mas entendi isso de outra forma. “Usufruir, e não ter”. Nas meditações pedi e recebi! Montei “SerTÃOmar”, espetáculo sonhado por 5 anos, ratificado perante ao mestre quando nos validou os talentos (na casa da Duda). Além dele, muitos outros trabalhos montados “na raça” e uma maturidade criativa que é fruto dessa autoconfiança.

Eu dei um trabalhão pra Betta, porque eu era dura nas minhas certezas ilusórias. Levei bronca, tive raiva, me senti vítima… Mensagens de ariana pra ariana (entendedores entenderão). Mas a intuição é a voz que sabe das coisas e que nunca me deixou desistir de buscar. Até hoje a Betta é minha conselheira fiel, solícita. Nunca houve sufoco em que ela não oferecesse apoio.

Hoje estou certa que esse encontro não foi uma passagem na minha vida, foi uma conexão que se fez. Uma “corda cósmica’ que compõe a rede da minha existência terrena. E eu sou muito, muito grata por todos os benefícios e descobertas que essa conexão me traz.

Gratidão, Betta, por você existir conosco!

 

Andrea Soares

@instandreasoares

@andreasouares

@pedezamba

www.ilumiarasereconhecer.com.br